3.1.11

TV do Afeganistão ousa e cria programa para mulheres falarem de abusos sofridos em casa


Matéria copiada do Globo.com


Há dez anos seria algo impensável. A mão de ferro com que o Talibã controlava a sociedade afegã não permitiria tal ousadia. Mas agora, quase dez anos após a queda do regime fundamentalista, uma TV do Afeganistão ousou e criou um programa para mulheres falarem de abusos sofridos em casa.

O programa revolucionário recebeu o nome de "Niqab" (véu islâmico que deixa apenas os olhos visíveis). Ele conta histórias como a de uma mulher identificada como Saraya.

"Eu tinha tantos sonhos para a minha vida, mas, quando eu o vi, eles simplesmente desapareceram. Eu disse ao meu pai que não queria me casar com ele. 'Por que você está fazendo isso comigo?' Meu pai disse: 'Você está na idade de se casar e esta é a minha decisão, não a sua'".

Bastaram apenas três dias para que Saraya se casasse com um homem que ela descreve como "louco". A afegã contou ter sido forçada a se casar, aos 15 anos, com um conhecido estuprador, com ficha criminal, 43 anos mais velho que ela.

Estima-se que seis em cada dez casamentos no Afeganistão sejam forçados. Em muitos deles, há uma troca de mulheres solteiras entre as famílias com objetivo de matrimônio.

"Quando o meu filho mais jovem tinha 4 anos, meu marido trouxe mulheres para a nossa casa e as estuprou", contou. "Meu filho me perguntou: 'Quem são essas mulheres?'. Eu não pude dizer nada. Caso contrário, ele (o marido) bateria em mim", acrescentou.

Emoções nunca reveladas foram possíveis graças ao "Niqab". No programa, as participantes usam uma máscara bicolor: o azul, a cor tradicional das burcas, representa a opressão; o branca simboliza a inocência.

- É muito difícil para as mulheres afegãs falarem sobre os seus problemas e a violência que enfrentam em casa - disse à CNN Sami Sami Mahdi, de 28 anos, o criador do programa, que se diz influenciado pela vida da mãe.
- Mas não estou falando apenas da minha mãe. Estou falando de todas as mães do Afeganistão.